Andei pensando muito em como iniciar este texto. Que título daria? Pensei em desencanto, decepção, em desilusão… Mas, por outro lado, embora minha decisão de sair da atividade político-partidária tenha um pouco dessas coisas, elas não representam a totalidade dos motivos.
Andei vasculhando os arquivos da memória para escrevê-lo, relembrando vários momentos: campanhas, vitórias, derrotas, alegrias e tristezas.
Acho que tudo começou, mais ou menos, assim.
Militante do movimento ambientalista e do movimento estudantil, um dia, acabei ingressando na política partidária. Há muitos anos! Para usar o desgastado jargão: quase uma vida!
Militei, dirigi e presidi ambos os partidos aos quais fui filiado e sempre me senti, para usar outro surrado e abusado jargão: um soldado. Mesmo quando não gostava de assumir certas disputas internas ou externas, acabava assumindo-as para o bem do partido. Não fui filado ao PV, apesar de minha militância ambientalista levar muitos a crerem nisso. Nunca ingressei no PV, provavelmente, pelos mesmos motivos que fizeram com que Marina Silva saísse dessa agremiação partidária.
Pela militância político-partidária, deixei em segundo plano minha profissão, meu lazer, minha família, ou seja, grande parte de minha vida. Deixei porque acreditava que minha opção poderia fazer diferença na construção de um mundo socialmente justo, solidário e sustentável do ponto de vista socioambiental. Nunca me enlevaram as regalias, a visibilidade ou a vaidade de ser detentor de um cargo eletivo. Sempre os vi como instrumentos de luta.
Daqueles anos para estes, tudo mudou. E muito!
Em minhas primeiras campanhas eleitorais – pouca gente há de acreditar- fiz campanha para me eleger vereador conjuntamente com um companheiro/adversário (?). Como? Da seguinte forma: em um final de semana eu ia com ele para seu bairro, a Vila Hortênsia, distribuir seus panfletos e dizia que ele era um ótimo candidato e no outro ele ia para a Vila Santana, onde eu morava, atribuir a mim as mesmas qualidades. Nesta época, cheguei a “rodar panfletos” em mimeógrafo a tinta quando acabaram aqueles que me foram doados e rodados em offset.
Não quero ser maçante descrevendo tudo o que passei nos bons (claro, que eles existiram!) e nos maus momentos da atividade político-partidária. Quero, apenas, reforçar meu “adeus”. Não à atividade política – inerente ao ser humano. Continuo atuando, sem dúvida, em ONGs, conselhos populares, participo de manifestações… Mas, não de forma orgânica nos partidos políticos.
Não vejo, neste momento, a distinção ideológica e postural que me fazia bater no peito em nome do partido ao qual pertencia e dizer de meu orgulho em defender aquela legenda. Hoje impera o pragmatismo. Nas eleições, valem as coligações com a finalidade, exclusiva, da vitória. Projeto político-ideológico? Não existe mais.
Além disto, as campanhas são calcadas em um marketing cada vez mais caro – ouvi um vereador dizer que, em uma cidade vizinha e bem menor do que Sorocaba, uma vereadora havia gasto mais de dois milhões de reais para sua eleição. Exagero? Pode ser, mas, pelo que tenho visto ultimamente, é perfeitamente possível.
Hoje, há pouca militância nas campanhas. Pouco se vê o eleitor que veste a camisa porque acredita em determinada candidatura e que está ali despojado de qualquer interesse pessoal. Defendendo um ideal.
Não. Esta não é “a minha praia”!
Hoje, volto meus olhos e minhas ações, mais para minha vida pessoal, profissional e familiar.
Mudei de cidade. Mudei de vida. Vivo no campo. Planto; rego minhas plantas e vejo, com encantamento, o seu crescimento; observo os pássaros que frequentam “nosso habitat”; escrevo e trabalho num ramo em que acredito: Consultoria Socioambiental.
Deixei a vida partidária e as disputas político-eleitorais.
Mantenho muitas de minhas crenças e convicções. Acho, entretanto, que a Justiça tarda e falha e que civilização e democracia, tal como as idealizamos, direitos e coisas do tipo são meras fantasias.
Sei que existe, felizmente, muita gente que tem energia e que acredita na transformação através da política partidária. Que bom!
Votarei naqueles de espírito aberto, nos idealistas e que ainda conseguem sobreviver, com saúde, aos descaminhos da política desideologizada e pragmática.
A partir do Blog GB. Leia no original
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