Oswaldinho está desolado desde que se separou da Flávia. E, ao contrário do que habitualmente acontece, quem saiu de casa foi ela, independente e decidida. A gota-d’água foi uma briga, entre tantas, em que ele, numa festa de casamento, depois de beber além da conta, deu na mulher uma sonora bofetada. Motivo? Ciúme, claro. Infundado? Aí já não sei. Quem conhece a Flávia não esperava que ela engolisse essa afronta. Saiu de casa na mesma noite, sem deixar de dizer:
— É pra sempre, tá?!
E ele sabia que assim seria.
Foi por sentir que ele queria desabafar que aceitei seu convite para uma pizza e um chope, sendo que não gosto muito nem de uma coisa nem de outra. Não querendo ouvir sozinho os lamentos, estendi o convite, por minha conta, ao Cícero e à Neusa, eternos namorados da nossa turma do Leblon, e ao Otávio, nosso amigo solteiro.
— Mas vocês pareciam o casal mais feliz do Rio de Janeiro — exclamei.
— Não parecíamos, não. Éramos de verdade — suspirou e cortou desastradamente um pedaço de pizza.
— Por que faca de restaurante é sempre cega, não corta?
— Vai ver que é para impedir assassinatos — brincou o Otávio.
— O que eu sei é que estou sofrendo barbaramente, enquanto ela, vieram me contar, já está numa boa e de namorado novo. Adivinhem com quem. Com o Nando.
— O Nando??? — admirou-se a Neusa, quase engasgando com seu pedaço de marguerita.
— Pois é, logo ele, que me odeia, sempre me odiou. Que falava mal de mim pra todo mundo! E falava dela também, que a gente sabia. Chegou a inventar que a Flávia, quando ia a Nova York, cortava as etiquetas de roupas que experimentava nas grandes lojas para costurar nos saldos que comprava, ao voltar, em lojinhas do Rio e de São Paulo.
— Eu nunca ouvi essa história — mentiu a Neusa, com a maior cara de pau, já que todos nós sabíamos desse comentário maldoso do Nando, que corria à boca pequena, nem tão pequena assim, por todo o Leblon.
— Ah, qual é? Se estão separados, cada um está no direito de seguir sua vida — falou o Cícero, enquanto eu ficava de antena ligada, mas de boca fechada. Quer dizer: fechada para falar, porque saboreava minha calabresa sem cebola.
— Mas e o luto? — argumentou Oswaldinho. — Toda separação tem um período de luto, mesmo quando o casal é infeliz. O hábito então não conta? A intimidade de tantos anos não pesa, não provoca saudade?
— Mas você não sabe o que ela está sentindo por dentro — arriscou o Otávio, tentando contemporizar.
— Sentindo bulhufas — exaltou-se ele. — Bulhufas! Quando morreu o Foguinho, vocês lembram?, aquele cachorro com cara de maluco que a gente tinha e que foi atropelado em Búzios? Pois então, quando ele morreu, a Flávia ficou de luto, chorando pelos cantos, nem sorrir, sorria, suspirando sempre que via na rua um cãozinho vadio. Não conseguia comer, emagreceu 3 quilos, tudo porque o cachorro morreu. E agora, quando morre uma relação forte como a nossa, ela já sai com outro, dá risada alto nos restaurantes, isso também já me vieram contar.
No fundo, machistas como sempre acabamos sendo, muito ou pouco, mais cedo ou mais tarde, num ou noutro assunto, achávamos também que a Flávia devia ter dado um tempo antes de sair com alguém. E, com o Nando, então, Deus do céu, nem pensar! E Oswaldinho arrematou:
— Ela até engordou!
— A Flávia engordou? — perguntou a Neusa, não conseguindo esconder a ansiedade e, por que não dizer, a satisfação. Afinal, a Flávia, de idade insondável, sempre ostentou um corpinho de modelo, causando inveja em muitas mulheres que, como a própria Neusa, lutam contra o peso e fogem dos espelhos.
— Está uma baleia — resumiu Oswaldinho, com rancor. — Já há até quem diga que ela está grávida!
E fungando para não chorar:
— Se ela engravidar, não vou perdoar nunca. Comigo, sempre evitou, apesar de eu querer tanto um filho.
E a Neusa, sorrindo vingativa, já sem ouvir o que dizíamos, sentindo-se recompensada e atacando com fúria e sem culpa seu último pedaço de pizza, deixou escapar:
E ele sabia que assim seria.
Foi por sentir que ele queria desabafar que aceitei seu convite para uma pizza e um chope, sendo que não gosto muito nem de uma coisa nem de outra. Não querendo ouvir sozinho os lamentos, estendi o convite, por minha conta, ao Cícero e à Neusa, eternos namorados da nossa turma do Leblon, e ao Otávio, nosso amigo solteiro.
— Mas vocês pareciam o casal mais feliz do Rio de Janeiro — exclamei.
— Não parecíamos, não. Éramos de verdade — suspirou e cortou desastradamente um pedaço de pizza.
— Por que faca de restaurante é sempre cega, não corta?
— Vai ver que é para impedir assassinatos — brincou o Otávio.
— O que eu sei é que estou sofrendo barbaramente, enquanto ela, vieram me contar, já está numa boa e de namorado novo. Adivinhem com quem. Com o Nando.
— O Nando??? — admirou-se a Neusa, quase engasgando com seu pedaço de marguerita.
— Pois é, logo ele, que me odeia, sempre me odiou. Que falava mal de mim pra todo mundo! E falava dela também, que a gente sabia. Chegou a inventar que a Flávia, quando ia a Nova York, cortava as etiquetas de roupas que experimentava nas grandes lojas para costurar nos saldos que comprava, ao voltar, em lojinhas do Rio e de São Paulo.
— Eu nunca ouvi essa história — mentiu a Neusa, com a maior cara de pau, já que todos nós sabíamos desse comentário maldoso do Nando, que corria à boca pequena, nem tão pequena assim, por todo o Leblon.
— Ah, qual é? Se estão separados, cada um está no direito de seguir sua vida — falou o Cícero, enquanto eu ficava de antena ligada, mas de boca fechada. Quer dizer: fechada para falar, porque saboreava minha calabresa sem cebola.
— Mas e o luto? — argumentou Oswaldinho. — Toda separação tem um período de luto, mesmo quando o casal é infeliz. O hábito então não conta? A intimidade de tantos anos não pesa, não provoca saudade?
— Mas você não sabe o que ela está sentindo por dentro — arriscou o Otávio, tentando contemporizar.
— Sentindo bulhufas — exaltou-se ele. — Bulhufas! Quando morreu o Foguinho, vocês lembram?, aquele cachorro com cara de maluco que a gente tinha e que foi atropelado em Búzios? Pois então, quando ele morreu, a Flávia ficou de luto, chorando pelos cantos, nem sorrir, sorria, suspirando sempre que via na rua um cãozinho vadio. Não conseguia comer, emagreceu 3 quilos, tudo porque o cachorro morreu. E agora, quando morre uma relação forte como a nossa, ela já sai com outro, dá risada alto nos restaurantes, isso também já me vieram contar.
No fundo, machistas como sempre acabamos sendo, muito ou pouco, mais cedo ou mais tarde, num ou noutro assunto, achávamos também que a Flávia devia ter dado um tempo antes de sair com alguém. E, com o Nando, então, Deus do céu, nem pensar! E Oswaldinho arrematou:
— Ela até engordou!
— A Flávia engordou? — perguntou a Neusa, não conseguindo esconder a ansiedade e, por que não dizer, a satisfação. Afinal, a Flávia, de idade insondável, sempre ostentou um corpinho de modelo, causando inveja em muitas mulheres que, como a própria Neusa, lutam contra o peso e fogem dos espelhos.
— Está uma baleia — resumiu Oswaldinho, com rancor. — Já há até quem diga que ela está grávida!
E fungando para não chorar:
— Se ela engravidar, não vou perdoar nunca. Comigo, sempre evitou, apesar de eu querer tanto um filho.
E a Neusa, sorrindo vingativa, já sem ouvir o que dizíamos, sentindo-se recompensada e atacando com fúria e sem culpa seu último pedaço de pizza, deixou escapar:
— Ah, Deus é pai! A Flávia gorda! Tô dando a vida pra ver!
A partir da Veja-Rio. Leia no original
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