Em 1980 o outrora glorioso jornal seção de quadrinhos se tornou um deserto, devastado pelo encolhimento do espaço, timidez editorial e outros males. O entusiasmo real em meu meio mudou-se para as margens férteis da imprensa alternativa. Bill Watterson, um desinteressado pelas Histórias em Quadrinho underground, praticamente marchava num deserto, até que teve um lance de mestre. Fez um sucesso extraordinário com os personagens “Calvin e Haroldo”, um hiperativo garoto de seis anos cujo maior amigo é o tigre de pelúcia Haroldo – que ganha vida quando não existe nenhum adulto por perto. Ao lado das fantasias e brincadeiras da dupla, surgem questões sobre política, cultura, sociedade e a relação de Calvin com seus pais, colegas e professores, com a sabedoria que os tolos adultos só conseguem traduzir como ingenuidade.
Sucesso praticamente desde o seu lançamento, em 1985, a tira durou dez anos, quando Watterson a abandonou no auge de sua popularidade,. O resultado: virou um clássico, à altura de “Snoopy” e “Pogo e Krazy Kat”. Nos Estados Unidos, dez anos após sua “morte”, publicou-se uma monumental coleção em três grossos volumes, vendida numa caixa para colecionadores e apaixonados por quadrinhos.
A “Complete Calvin e Hobbes” oferece duas narrativas interligadas. Um detalhes a amizade entre Calvin-a egoísta, febrilmente imaginativa, e seu animal de estimação, o tigre Hobbes. Hobbes é visto pelos pais de Calvin como um brinquedo de pelúcia inofensivo. E é justamente esta realidade transversal que dá à tira a sua vitalidade.
A introdução autobiográfica pelo Watterson notoriamente recluso começa um outro conto sobre a colisão de realidades privados e partilhados: a história da batalha de um artista para explorar sua arte dentro dos confins claustrofóbicos de alguns centímetros de espaço de jornal. Os sitiados Watterson lutas as restrições de prazos brutal diariamente, escaramuças com os editores a ganhar mais espaço para suas páginas, muitas vezes graciosa domingo. Esses livros oferecem um testemunho de dedicação de Watterson e à capacidade do meio para manter a reinventar-se contra todas as probabilidades.
Art Spiegelman
Vencedor do Prêmio Pulitzer de Maus e In the Shadow of No Towers
Vencedor do Prêmio Pulitzer de Maus e In the Shadow of No Towers
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