A bola corre pelos meus campos de menino. Sonho dos meus recreios e das minhas gazetas. Me lembro de ti, colegial, esquiva, menos minha que dos outros.Vivias me apontando desencontros: tu, ariscas, ia pra um canto e eu, iludido, acabava no outro. Ainda bem que meu coração jamais se ofendeu com as nossas desavenças, bola querida.
Éramos, no fundo, naquelas peladas de quintal, dois aprendizes de ilusão, trocando senhas de vida no comecinho da vida.
'A bola da minha infância é uma saudade concisa'
Bola que corre pelos meus sonhos de menino:da nossa infância, guardo, sempre, a alegria sensual de ter te abraçado algumas vezes – poucas – encerrando, no meu peito de goleiro inglório, a paz da lua e a luz do sol.
Brincar contigo é descobrir a harmonia e o equilíbrio do universo.Brincar contigo é brincar com Deus, de cuja plenitude nasce a esfera, inspiração da bola.
Bola é magia, bola é movimento. É a vida nas mãos de uma criança. Louvado o homem que faz da bola parceira e cúmplice do seu próprio destino.
A bola da minha infância é uma saudade concisa que vem rolando comigo, de campo em campo, pelos caminhos do tempo. Um dia, antes do apito final, ela há de morrer, como um gol, no fundo do meu coração.
Minha alma deve ao futebol momentos de plenitude, sem os quais minha vida teria sido um mero empate, sem gols.
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