Símbolo do bem-estar, da vida saudável e dos corpos esbeltos e bronzeados, o Rio de Janeiro é também a capital brasileira com a maior proporção de obesos em sua população
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Mas o que explica isso? Por que os cariocas, de repente, passaram de tamanho M para GG? Bom, existem fatores gerais e outros mais específicos para justificar essa transformação. Para começar, não estamos sozinhos nessa. O mundo inteiro está engordando. A combinação de estresse, refeições irregulares, sedentarismo e grande disponibilidade de alimentos industrializados criou aquilo que os especialistas chamam de ambiente obesogênico. Nos Estados Unidos, 25% da população é considerada obesa. Aqui como lá, as pessoas se deslocam preferencialmente de automóvel e costumam descontar suas frustrações na comida. No Brasil, há ainda outra variável. Atualmente, estamos em meio a um fenômeno chamado transição nutricional, em que a camada de menor poder aquisitivo passa a ser mais bem remunerada e, com isso, consome mais alimentos gordurosos. O Rio, evidentemente, também está incluído nessa equação, em que o acúmulo de riqueza é proporcional ao de gordura. Mas não são apenas os favelados e moradores do subúrbio que estão ganhando uns quilinhos a mais. “Como todo grande centro urbano, reunimos condições extremamente favoráveis para que as pessoas ganhem peso”, diz Amélio de Godoy Matos, membro da Associação Brasileira para Estudos da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).
Fotos Fernando Lemos | |
O vice-governador Pezão com a mulher, Maria Lúcia, em um bar do Leblon: apaixonado pela calórica combinação de chope com pestiscos | |
Alexandre Accioly em uma de suas academias de ginástica: dieta rigorosa e programa de exercícios pulverizaram 19 quilos em três meses |
Mesmo sem a quantidade e a variedade de restaurantes de São Paulo, as tentações à mesa por aqui não são poucas. Uma característica local, nada desprezível para compreender por que estamos mais gordinhos, é a cultura de botequim, com fartura de bebida alcoólica e de petiscos engordativos. De acordo com estimativas de VEJA RIO, existem cerca 15 000 bares na cidade, vários deles estrategicamente posicionados no caminho do trabalho para casa. “Essa é mais uma peça que ajuda a explicar os altos índices de excesso de peso”, diz o endocrinologista Walmir Coutinho, chefe do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares, núcleo ligado à Secretaria de Saúde. Quem toma chope (a tulipa de 300 ml tem 180 calorias) raramente fica no primeiro copo. Somados os acompanhamentos clássicos da baixa gastronomia, como bolinhos, torresmo, embutidos, linguiças e afins, uma inocente passagem pelo boteco pode render uma bomba calórica de 1 000, às vezes 2 000 calorias.
A combinação de bom papo regado a chope e uns beliscos é irresistível para o vice-governador Luiz Fernando de Souza, o Pezão. Morador do Leblon, com aquele tamanhão todo, não é difícil vê-lo nos botecos do bairro nos fins de semana. Com 1,90 metro de altura e 133 quilos — 23 acima do que considera ideal —, ele vive o desafio permanente de controlar o apetite. “Toda vez que a calça começa a apertar, inicio uma dieta”, conta. Há dez dias, começou uma nova. Rígidos, os regimes alimentares costumam ser intercalados por três temporadas ao ano em um spa. “Já incorporei essa rotina: emagreço e depois engordo tudo de novo. Daí volto a emagrecer, para engordar mais uma vez.”
O chef Roland Villard na cozinha do Le Pré-Catelan: na briga contra a balança vale até trocar a colher de sopa pela de café | ||
Corredores na Lagoa: apesar da alta concentração de gordos, a cidade oferece muitas opções para quem deseja levar uma vida saudável |
Se houvesse rosto para definir o Rio rechonchudo, seria o da cantora e atriz Preta Gil, 1,60 metro e 80 quilos. Flagrada há dois anos por um paparazzo tomando um caldo em Ipanema, ela tornou-se alvo de uma cruel brincadeira no programa Pânico na TV. Enquanto as fotos eram exibidas, o apresentador a comparava a uma baleia encalhada. “Fiquei muito ofendida. Foi uma tremenda falta de respeito”, diz Preta, 35 anos, que processou o programa por danos morais e ganhou na Justiça o direito de receber uma indenização de 150.000 reais. A moça já tentou de tudo para emagrecer — de remédios a lipoaspiração, passando pelas dietas mais esdrúxulas. Em paz com seu próprio corpo, bonita e desejada, ela no momento desistiu da luta com a balança e se limita a controlar seus índices de colesterol e triglicerídeos. Nem todo mundo, claro, consegue se olhar no espelho com a mesma postura zen. Fanático por combinações hipercalóricas por próprio dever de ofício, o chef de cozinha Roland Villard, do restaurante Le Pré-Catelan, chegou a pesar 105 quilos, um número alto para seu 1,75 metro. Resolveu radicalizar nos exercícios físicos para contrabalançar a vida de pecadilhos que levava no trabalho. Além de adotar um rígido programa de treinamento de corrida, incorporou medidas folclóricas ao seu dia a dia, como trocar a colher de sopa que usava para provar suas preparações por uma de café. Perdeu 25 quilos, mas acabou recuperando 10 deles. “Não posso deixar de acompanhar o que está sendo preparado”, justifica-se o mestre-cuca de 48 anos. “Agora fechei a boca de novo e voltei a correr.”
O perfil alimentar do carioca
Comparação entre o consumo de alimentos na cidade do Rio de Janeiro e no resto do país (em porcentual da população adulta)
(1) Frequência igual ou superior a cinco dias por semana (2) Quatro ou mais doses num único dia, nos últimos trinta dias
Hábitos, comportamento e saúde
Comparação entre atitudes dos cariocas que influenciam o excesso de peso e problemas de saúde (em percentual da população adulta)
(1) Três ou mais horas em pelo menos cinco dias da semana (2) trinta minutos diários de exercícios leves ou moderados cinco dias por semana ou vinte minutos diários de intensidade vigorosa em três dias por semana
A boa notícia para os que desejam emagrecer é que nem tudo está perdido. Romper o círculo vicioso da gordura é difícil, mas, se existe um lugar onde isso é possível, esse lugar chama-se Rio de Janeiro. A cidade oferece uma infinidade de estímulos para a vida saudável. Não faltam por aqui restaurantes com foco na alimentação de baixas calorias. Poucas capitais brasileiras contam com uma rede tão vasta de ciclovias e áreas para fazer esporte ao ar livre. A cada fim de semana e feriados, a orla se transforma em uma imensa área de lazer. A agenda de eventos esportivos também é vibrante. Em breve, a cidade abrigará dois deles.
Ainda neste mês, a capital será o ponto de partida para o primeiro Tour do Rio, uma corrida internacional de bicicletas que percorrerá 780 quilômetros de estradas no estado, em cinco dias de prova. Em agosto, será a vez de a meia maratona do Rio reunir cerca de 17 000 corredores, entre amadores e profissionais. Isso sem falar que vamos respirar esporte pelo menos nos próximos seis anos, com a realização de duas competições de dimensões globais, como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Para quem precisa de incentivos na guerra contra os quilos extras, aí estão vários deles. Mexa-se. Fique saudável. E vamos ver se na próxima pesquisa estaremos mais magros do que os elegantes paulistas, ok?
A partir da Veja Rio. Leia no original
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