A doutrina religiosa do Santo Daime teve início na floresta amazônica em meados do século 20. O fundador, Raimundo Irineu Serra, conheceu a ayahuasca – chá alucinógeno que os seguidores chamam de Santo Daime – por intermédio de nativos da Amazônia na fronteira com o Peru.
Mestre Irineu, como ficou conhecido, teve uma visão após tomar a bebida. Ele viu uma mulher, que para ele era Nossa Senhora da Conceição, que lhe revelou a doutrina. Os ensinamentos foram passados por meio dos hinos que teria recebido do céu, isso na década de 30, dando início à religião.
A base do Santo Daime -- que é um rogativo: dai-me amor, dai-me força, dai-me luz -- mistura os fundamentos cristãos e ritos xamanistas. Possui seguidores em diversos países, como Estados Unidos, Holanda e México.
Mestre Irineu contou com a ajuda do discípulo Sebastião Mota de Melo para difundir os ensinamentos da doutrina para dentro e fora de Rio Branco, no Acre. Padrinho Sebastião – que também recebia hinários – criou a comunidade Céu do Mapiá, incrustada na floresta amazônica, que funciona como a matriz do Santo Daime. Nos anos 90, ele passou o comando da igreja para um de seus filhos, Alfredo Gregório de Melo (Padrinho Alfredo). Padrinho Sebastião também fundou a Cefluris - Centro Eclético da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra, uma sociedade daimista sem fins lucrativos. Ele faleceu em 1990.
O chá da fé
Após muitas idas e vindas, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas regulamentou no final de janeiro o uso do ayahuasca, uma infusão feita com um cipó e uma folha de origens amazônica. Vetando seu comércio e uso terapêutico, a decisão autoriza para fins religiosos o consumo da bebida, que já foi proibida na década de 1980.
Assim, ganham forças as diversas Igrejas que utilizam o chá em seus cultos. A mais famosa dentre elas é a do Santo Daime, que se tornou praticamente uma metonímia para o ayahuasca. No entanto, se as potencialidades enteógenas da bebida são conhecidas pelos povos indígenas há muitos séculos, o Daime
tem uma história mais curta.
Elemento comum a diversos povos da Amazônia, inclusive na região andina, o ayahuasca ganhou popularidade no início do século XX com o maranhense Raimundo Irineu Serra, que curiosamente chegou ao Acre para trabalhar na demarcação de fronteiras entre Brasil, Peru e Bolívia. Descendente de escravos, ele foi iniciado nos rituais da bebida por um xamã local e teve uma visão de Virgem Maria da Conceição após ingerir a bebida certa vez. Era o momento fundador da Igreja do Santo Daime, que viria injetar elementos cristãos no já multicultural culto ao ayahuasca.
“Uma coisa importante que ele introduziu foi a dieta, a interdição sexual três dias antes e depois do consumo do chá. Outra coisa importante foi uma certa padronização na produção da bebida, que era inicialmente chamada apenas de Daime. A medida que foram acontecendo relatos de cura, passou a se chamar de Santo Daime. A bebida paulatinamente foi considerada um sacramento eucarístico, assim como o pão e o vinho. Para os seguidores da Igreja do Daime, a bebida e o mestre são uma coisa só”, explica a historiadora Isabela Olivera, que participa do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (confira aqui a entrevista completa com a pesquisadora).
Com as igrejas, o ayahuasca saiu das selvas amazônicas e ganhou grandes cidades do Brasil e do mundo. A Igreja criada por Irineu já está presente em mais de 25 países e deve se expandir ainda mais. No ano passado, o Peru reconheceu a bebida como patrimônio cultural e o mesmo acontecerá aqui em breve. “A legislação brasileira influencia a de outros países no sentindo de promover uma abertura aos rituais do Santo Daime, da União do Vegetal e outras Igrejas”, analisa Isabela.
Antes de sua popularização mundo afora, o ayahuasca já era presente em diversas sociedades das matas amazônicas. Segundo a historiadora, apenas nesta região, a bebida é conhecida por mais de 40 nomes diferentes. “A cultura indígena a considera uma bebida muito poderosa para a cura de diversas doenças. E isto dentro de uma farmacopéia impressionante que eles dispõem”, pontua.
As potencialidades terapêuticas do chá também têm chamado a atenção de cientistas, que buscam aplicações para a cura de doenças como a depressão. Mas o acúmulo milenar dos povos originários sobre o ayahuasca ainda não foi traduzido em fórmulas científicas. “Não existe nenhum estudo científico que demonstre efeitos terapêuticos, apenas alguns que indicam tal possibilidade. Existem pesquisas sobre o uso da substância no tratamento de dependências químicas, por exemplo. Mas não são estudos devidamente controlados”, explica o psicólogo Rafael Guimarães dos Santos (Revista de História da Biblioteca Nacional. Leia no original)
O chá da fé
Após muitas idas e vindas, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas regulamentou no final de janeiro o uso do ayahuasca, uma infusão feita com um cipó e uma folha de origens amazônica. Vetando seu comércio e uso terapêutico, a decisão autoriza para fins religiosos o consumo da bebida, que já foi proibida na década de 1980.
Assim, ganham forças as diversas Igrejas que utilizam o chá em seus cultos. A mais famosa dentre elas é a do Santo Daime, que se tornou praticamente uma metonímia para o ayahuasca. No entanto, se as potencialidades enteógenas da bebida são conhecidas pelos povos indígenas há muitos séculos, o Daime
Elemento comum a diversos povos da Amazônia, inclusive na região andina, o ayahuasca ganhou popularidade no início do século XX com o maranhense Raimundo Irineu Serra, que curiosamente chegou ao Acre para trabalhar na demarcação de fronteiras entre Brasil, Peru e Bolívia. Descendente de escravos, ele foi iniciado nos rituais da bebida por um xamã local e teve uma visão de Virgem Maria da Conceição após ingerir a bebida certa vez. Era o momento fundador da Igreja do Santo Daime, que viria injetar elementos cristãos no já multicultural culto ao ayahuasca.
“Uma coisa importante que ele introduziu foi a dieta, a interdição sexual três dias antes e depois do consumo do chá. Outra coisa importante foi uma certa padronização na produção da bebida, que era inicialmente chamada apenas de Daime. A medida que foram acontecendo relatos de cura, passou a se chamar de Santo Daime. A bebida paulatinamente foi considerada um sacramento eucarístico, assim como o pão e o vinho. Para os seguidores da Igreja do Daime, a bebida e o mestre são uma coisa só”, explica a historiadora Isabela Olivera, que participa do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (confira aqui a entrevista completa com a pesquisadora).
Com as igrejas, o ayahuasca saiu das selvas amazônicas e ganhou grandes cidades do Brasil e do mundo. A Igreja criada por Irineu já está presente em mais de 25 países e deve se expandir ainda mais. No ano passado, o Peru reconheceu a bebida como patrimônio cultural e o mesmo acontecerá aqui em breve. “A legislação brasileira influencia a de outros países no sentindo de promover uma abertura aos rituais do Santo Daime, da União do Vegetal e outras Igrejas”, analisa Isabela.
Antes de sua popularização mundo afora, o ayahuasca já era presente em diversas sociedades das matas amazônicas. Segundo a historiadora, apenas nesta região, a bebida é conhecida por mais de 40 nomes diferentes. “A cultura indígena a considera uma bebida muito poderosa para a cura de diversas doenças. E isto dentro de uma farmacopéia impressionante que eles dispõem”, pontua.
As potencialidades terapêuticas do chá também têm chamado a atenção de cientistas, que buscam aplicações para a cura de doenças como a depressão. Mas o acúmulo milenar dos povos originários sobre o ayahuasca ainda não foi traduzido em fórmulas científicas. “Não existe nenhum estudo científico que demonstre efeitos terapêuticos, apenas alguns que indicam tal possibilidade. Existem pesquisas sobre o uso da substância no tratamento de dependências químicas, por exemplo. Mas não são estudos devidamente controlados”, explica o psicólogo Rafael Guimarães dos Santos (Revista de História da Biblioteca Nacional. Leia no original)
Mestre Irineu
Raimundo Irineu Serra nasceu em 15 de dezembro de 1892, no Maranhão. Neto de escravos, era negro e alto (tinha quase 2 m de altura). Com cerca de 20 anos de idade foi trabalhar como seringueiro na Amazônia. Mais tarde, trabalhou como guarda de fronteira do Acre com a Bolívia e o Peru. Por intermédio de seu amigo Antônio Costa, foi nessa época que conheceu o xamã D. Crescêncio Pisango – apelidado de Huascar -- que lhe apresentou a ayahuasca. Mestre Irineu foi casado com D. Peregrina Gomes da Serra e morreu em 6 de julho de 1971.
Aline Genachi. "HowStuffWorks - Como funciona o Santo Daime".
Publicado em 05 de fevereiro de 2010 (atualizado em 05 de fevereiro de 2010)
http://pessoas.hsw.uol.com.br/santo-daime1.htm (19 de março de 2010)
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