
“Há cardeais que não acreditam em Jesus e bispos que estão ligados ao demônio”.
“O demônio mora no Vaticano”.
“O demônio pode se esconder, ou falar diversas línguas, ou até aparecer para ser solidário. Às vezes ele ri de mim. Mas sou um homem feliz com meu trabalho”.
Antes que você comece a me xingar, não sou eu quem assino as frases acima. Elas foram proferidas semana passada pelo padre – sim, o padre – Gabrielle Amorth, de 85 anos, exorcista há 25. O homem sabe do que fala. Serviu o exército italiano durante a Segunda Guerra Mundial. A experiência na guerra confirma sua crença de que os nazistas estavam possuídos e, segundo ele, comprovam que o demônio existe.
Agora, Amorth vê evidências irrefutáveis de que o Anti-Cristo está vencendo a batalha contra a Santa Sé. Palavras dele, o padre. “Sua Santidade acredita de todo o coração na prática do exorcismo. Ele tem encorajado e parabenizado nosso trabalho”, afirma.
A experiência na Igreja leva Gabrielle Amorth a concluir que a tentativa de assassinato do papa João Paulo II em 1981 e as recentes revelações de violência e pedofilia cometidas por sacerdotes que trabalham na educação de crianças também é obra do demônio.
Peraí, deixa ver se eu entendi: se a violência e atos de pedofilia cometidos contra as crianças é obra do demônio – que “possui” pobres e inocentes padres -, a quem devemos responsabilizar por tais atos? O demônio? Alguém tem o endereço do Dito-Cujo, para que possamos chamá-lo a depor numa delegacia? Sei não, essa história de demônio no Vaticano não me cheira bem. E não é cheiro de enxofre, não. É cheiro de desculpa esfarrapada.
Pessoas como eu, que não acreditam no demônio, preferem ver esses padres violentadores de crianças pagando por seus crimes aqui na justiça terrena, como qualquer outro criminoso, que me perdoe o simpático exorcista feliz com seu trabalho.
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