
É um horror, para o qual nós não temos conseguido reunir forças de combate adequado, nem mesmo aqui no estado. A massa vota segundo uma imagem positiva que faz desses mesmíssimos corruptos, que se apresentam como benfeitores, como provedores, como pais simbólicos para os desvalidos. Na ausência, na conivência ou na fraqueza de instituições públicas que façam a crítica – escola decente e jornalismo ativo, em especial –, está fechado o circuito. E ficamos nós aqui, com esta cara de tacho, cheios de razão e sem força de reação.
Mencionei o “país do futuro” lá no título em alusão a um livro clássico, que merece leitura (agora em nova e competente tradução, de Kristina Michahelles, edição da L&PM) sempre: Brasil, um país do futuro, um misto de relato de viagem com ensaio histórico escrito por Stefan Zweig. Merece leitura nem que seja para permitir-nos um exercício de contraste entre o que poderíamos ser e o que somos. Em 1941, na primeira edição, o livro fazia figura de elogio puro e simples ao país, por parte de um deslumbrado europeu que, naquela altura, sentia na pele a diferença entre a intolerância racial e social, que se adonara da Europa ocidental, e a visível tolerância imperante em nosso país. O Brasil pareceu a ele o país em que as pessoas se abraçam por nada, a toda hora. Previu um grande futuro para nós, em que não teríamos mais que conviver com a pobreza das favelas. Como profeta, um desastre; mas a simpatia que expressou por nosso povo – o mesmo povo aquele lá de cima – é comovente.
Luís Augusto Fischer
Texto publicado em Zero Hora em 08/12/09
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