
Ela já vinha pesquisando o problema da moradia nos EUA há tempos e esperava se deparar com os estragos da crise das hipotecas subprime. Mas encontrou coisa pior: gente morando em carros, muitos moradores de ruas em “cidades de barracas”, famílias inteiras sem-teto, apartamentos superlotados, com três famílias. “É muito difícil achar moradia acessível, as pessoas estão gastando 80%, 90% da renda com aluguel ou parcela do financiamento”, disse Raquel. “Quando a crise chegou, grande parte da moradia pública tinha sido demolida e não foi substituída em números suficientes.”
Ela esteve em Washington, Nova York, Wilkes-Barre, Chicago, New Orleans, Los Angeles e na reserva indígena Pine Ridge.
A ONU tenta desde 2005 enviar um relator para a moradia para os EUA, mas vinha sendo ignorada pelo governo Bush. Só agora, no governo Obama, mais aberto à atuação de instituições multilaterais como a ONU, é que a relatora recebeu sinal verde.
A direita americana esperneou. Um editorial do jornal conservador Washington Times disse que a visita de Raquel era parte da “usurpação gradual da soberania americana.”e perguntava porque ela não ia pesquisar a moradia no Brasil.“Ela deveria voltar para o lugar de onde saiu”, dizia o editorial. “A culpa burocrática de Miss Rolnik deveria ser dirigida ao Brasil, onde 28,9% da população urbana vive em favelas.”
“É claro que de forma absoluta, o problema da moradia é mais grave nos países em desenvolvimento”, disse Raquel. “Mas, de forma relativa, é igual - nos EUA, são milhões de pessoas sem acesso à moradia, no país mais rico do planeta.”
A relatora da ONU diz ser muito difícil comparar Brasil e EUA. Os EUA tiveram, por muitos anos, uma política de moradia abrangente, que foi sendo desmantelado desde o governo Reagan. O país está em uma trajetória descendente, só amenizada por algumas medidas recentes do governo Obama, ela diz.
Já o Brasil, explica Raquel, nunca deve uma política de moradia popular em grande escala. Eram sempre iniciativas da própria população – favelas, loteamentos irregulares – que então eram substituídas por COHABs ou Cingapuras, mas em escala muito menor.
Raquel está preparando um relatório sobre tudo o que viu nos EUA. Ela visitou projetos de habitação do governo, bairros com muitas casas em execução de hipoteca, locais onde se concentram moradores de rua e as chamadas tent-cities, que reunem sem-teto em barracas. Também promoveu assembléias com moradores e reuniu-se com representantes de ONGs, além de integrantes do governo Obama. Em março, ela apresenta seu relatório diante do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra.
A partir do blog Histórias Globais. Leia no original
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