Reportagem publicada pela revista Newsweek, que frequentemente tem tratado da emergência brasileira e agora não poupa elogios ao presidente Lula
Ele cresceu tão pobre, que somente descobriu o que era pão quando tinha 7 anos. Essa era a idade de Lula quando ele subiu em um "pau-de-arara", com agricultores que fugiam da seca, para uma viagem até o sudeste do país, onde sua família instalou-se numa favela de São Paulo. Ele abandonou a escola na quinta série, foi engraxate e foi trabalhar como operário aos 14 anos. No início da carreira, perdeu um dedo em um torno em virtude de um acidente ocorrido no turno da noite, em uma fábrica de auto-peças. Anos depois, tornou-se líder sindical respeitado internacionalmente. Isto porque, em pleno regime militar, as greves eram ilegais, mas ele desafiou os generais e os patrões e praticamente paralisou a potência do estado de São Paulo, a região do ABC, em nome do sindicato.
Eesta semana, está em Nova York para lançar a sessão da Assembleia Geral da ONU. As câmeras podem concentrar-se no charme 'cool' do americano Barack Obama, ou em ditadores como Mahmoud Ahmadinejad, do Irã , e Hugo Chaves, da Venezuela, Hugo Chávez, mas a maior estrela do encontro será o operador de torno barbudo: o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Após quase sete anos tumultuados em exercício, ele continua com uma inacreditável taxa de aprovação acima de 70%. Isso, por si só, seria um feito notável em qualquer lugar, até mesmo em um continente onde os presidentes são uma mercadoria descartável. "That's my man", disse sobre ele o presidente Obama, na cimeira do G-20, em Londres. "O político mais popular na terra", completou.
Com sua liderança, o Brasil tem resistido à crise melhor do que qualquer outra nação: nenhum banco foi abaixo, a inflação está controlada e a economia está crescendo novamente. "As pessoas duvidavam quando eu disse que seria o último a cair em recessão e o primeiro a sair", Lula disse à revista Newsweek, em entrevista exclusiva. "Mas basta apenas esperar e conferir. Nós vamos criar um milhão de empregos este ano". A notícia não é tão boa quanto pode parecer: um milhão de empregos seriam suficientes apenas para substituir os postos que o país perdeu desde outubro de 2008. Mas o Brasil está parecendo muito bem em comparação com a maioria dos lugares. Ultrapassou a Rússia e se junta à Índia e à China, outras grandes potências emergentes, que foram o BRIC.
O brasileiro é o homem do momento e diz que não jamais poderá dar costas às urnas. "Se você tem políticas com falhas e tenta vendê-las com publicidade falsa, sua avaliação não vai durar", diz ele. Mas a questão agora é saber se ele pode continuar a apostar na transformação de sua força em ganhos para o Brasil e, mais incisivamente, se ele está prestes a jogar fora muito do que ele realizou como presidente. Ele tem apenas 15 meses de mandato e sua candidata à sucessão, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, tem pouco reconhecimento entre a população e nem um traço do charme de seu chefe. Apesar de sua imensa popularidade, pesquisas recentes dizem que ela está correndo num distante segundo lugar e perdendo terreno para o governador de São Paulo, José Serra. "A aura de Lula não é transferível", observa Donna Hrinak, embaixadora dos E.U. para o Brasil.
Em nome de ajudar os pobres e trabalhadores brasileiros de classe, mas com um olhar atento sobre a eleição do próximo ano, Lula tem reiteradamente reajustado o salário mínimo (67% desde 2003, quase 40% acima da inflação) e está impulsionando pagamento de dívidas e de pensões; um movimento que pode criar problemas à administração seguinte. "Temos que dar um pouco mais para aqueles que ganham menos", diz Lula. No entanto, esse é o tipo de conversa populista que dá muitos calafrios. "O risco é o legado de despesas fixas e compromissos orçamentais que Lula vai deixar para o futuro", adverte o ex-ministro Mailson da Nóbrega. A folha de pagamento pública está crescendo em mais de 10 vezes a taxa de investimento público em estradas, pontes e portos. Enquanto isso, Lula não tem feito nada para aliviar a carga tributária total do país, o mais elevado nos mercados emergentes em 36% do PIB. E quando o senador e ex-presidente José Sarney, que controla um bloco de chave de votos na aliado Partido do Movimento Democrático Brasileiro, foi pego distribuindo empregos para amigos e parentes, Lula correu para sua defesa, dizendo que Sarney "não poderia ser tratado como uma pessoa comum ", uma estranha escolha de palavras, vindo de um homem do povo.
Ainda assim, se há uma verdade constante sobre Lula, é que as coisas estão sujeitas a alterações. "Eu sou uma metamorfose ambulante", ele gosta de dizer, citando o cantor brasileiro Raul Seixas. Na superfície, ele tem mais do que uma leve semelhança com o homem rudimentar de 30 anos atrás, ou mesmo para o político que se tornou nos anos 80 e 90. Os antigos cachos negros e uma barba desgrenhada, agora são cuidadosamente aparados. Ao invés de camisetas surradas e botons, veste-se em belos ternos sob medida. O homem que assumiu o cargo dizendo que chegava para melhorar a sorte dos pobres brasileiros está convencido de que o Brasil tem a missão de transformar o mundo. "O Brasil é um país com sólidas instituições democráticas", diz ele. "E nós mostramos às demais nações algumas lições sobre como enfrentar a crise econômica."
Apesar disso, os amigos próximos dizem que ele é o mesmo de sempre. Utiliza nos discursos o mesmo vocabulário que eletrizou seus companheiros metalúrgicos e fica irritado quando passa muito tempo em seu gabinete. "Ele fica nervoso quando ele passa muito tempo em sua mesa", diz o chefe de gabinete, Gilberto Carvalho. "Ele diz:" Eu preciso sair e viajar e conhecer pessoas. " No entanto, Lula tem resistido aos apelos para emendar a Constituição e buscar um terceiro mandato, e alerta para o erro da "falsa celebridade". "Popularidade é como a pressão arterial", diz ele. "Às vezes é alto e às vezes é baixa. O que você precisa é mantê-la sob controle."
Essa é uma habilidade que ele adquiriu da maneira mais difícil. Começando em 1989, ele concorreu à presidência por três vezes e, no final dos anos 90, ele estava prestes à abandonar a política. Em vez disso, fez algo mais ousado: refez a si mesmo. Passou a usar terno e gravata, contratou um treinador de fala e um assistente de marketing. Não bastasse, mudoeu o tempero de sua política de esquerda. O ponto da virada foi junho de 2002. Ele estava à frente nas pesquisas, mas a economia do Brasil foi sendo abalada, em parte porque os investidores estavam assustados com a perspectiva de ter Lula como presidente. Ele respondeu com uma "Carta ao Povo Brasileiro", comprometendo-se a honrar os contratos, pagar as dívidas do país, cumprir as exigências do Fundo Monetário Internacional e jogar pelas regras do mercado. Foi a jogada de sua carreira. A linha dura de seu Partido dos Trabalhadores (PT) acusou-o de traição e de estar cedendo aos banqueiros.
Ganhou as eleições, mas o trabalho duro tinha apenas começado. O turbulência financeira pré-eleitoral teve consequencias no crescimento econômico e forçou a uma forte desvalorização da moeda do Brasil. "Não foi fácil", lembra Lula. "Não tínhamos crédito externo. Nossas reservas eram extremamente baixas e a inflação mostrava fortes sinais de ressurgimento. A economia estava engarrafada." Mas um desafio ainda maior foi conviver com a imagem que ele adquiriu ao longo dos anoos. "Nós assumiu o cargo em meio a uma enorme crise de desconfiança", diz Carvalho, seu chefe de gabinete e um amigo de longa data. "Nós éramos uma minoria no Congresso. A imprensa foi cética."
Para convencer os credores que o Brasil era sério, Lula aumentou o "superávit primário", o dinheiro que o governo deixa de lado a cada ano para pagar dívidas e juros e aumentou as taxas de juros para 26%, a fim de matar a inflação. Ele também manteve os salários e pensões sob controle. "Os sindicatos e muitas pessoas do partido odiaram", diz Ricardo Kotscho, amigo e ex-assessor de imprensa.
Ganhou as eleições, mas o trabalho duro tinha apenas começado. O turbulência financeira pré-eleitoral teve consequencias no crescimento econômico e forçou a uma forte desvalorização da moeda do Brasil. "Não foi fácil", lembra Lula. "Não tínhamos crédito externo. Nossas reservas eram extremamente baixas e a inflação mostrava fortes sinais de ressurgimento. A economia estava engarrafada." Mas um desafio ainda maior foi conviver com a imagem que ele adquiriu ao longo dos anoos. "Nós assumiu o cargo em meio a uma enorme crise de desconfiança", diz Carvalho, seu chefe de gabinete e um amigo de longa data. "Nós éramos uma minoria no Congresso. A imprensa foi cética."
Para convencer os credores que o Brasil era sério, Lula aumentou o "superávit primário", o dinheiro que o governo deixa de lado a cada ano para pagar dívidas e juros e aumentou as taxas de juros para 26%, a fim de matar a inflação. Ele também manteve os salários e pensões sob controle. "Os sindicatos e muitas pessoas do partido odiaram", diz Ricardo Kotscho, amigo e ex-assessor de imprensa.
Internacionalmente, os grandez executivos ainda não estavam convencidos. "Sabíamos que ele tinha sido um líder sindical e presidente de um partido político. O que eu realmente me perguntei foi se ele tinha as armas para ser presidente", diz o ex-presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn. E Lula tem agido dessa maneira desde então, colocando o pragmatismo à frente da ideologia. "Ninguém nos seus sonhos teria pensado que Lula iria se comportar do jeito que se comporta", admite o guru do mercado de investimentos, Mark Mobius, da Templeton Asset Management. Agora Templeton tem US $ 5 bilhões no Brasil, mais do que na China. Por certo, Lula tinha muito o que trabalhar. Com uma rede de centrais hidroelétricas e metade da frota de veículos movida à álcool, o país tem sido o ponto de referência em energias renováveis.
"Tivemos de deixar claro que o Brasil não é um país pequeno", reforça Lula . "O Brasil tem a Amazônia [floresta], mas faz também aviões e telefones celulares." E assim, sua diplomacia agressiva tem encorajado nações mais pobres a assumirem um novo papel na economia internacional. Seu maior médito, no entanto, tem sido a sua capacidade de vender as reformas para uma população maioritariamente pobre que olhou para ele como uma espécie de salvador. "A popularidade de Lula ajudou a tomar decisões arriscadas", diz José Dirceu, um ex-ministro, que caiu após um escândalo de corrupção. Mais importante: ao contrário dos demagogos populistas que abundam na América Latina, ele fez jogando pelas regras. "O respeito de Lula pela democracia e eleições é uma grande vantagem", diz o ex-secretário do Tesouro Joaquim Levy. "Muitas vezes ele tem sido capaz de traduzir os valores fundamentais da democracia de modo a torná-las mais concretas para as pessoas".
O crash econômico, finalmente, colocou as habilidades de Lula à prova. "Foi assustador", lembra o presidente do Brasil. "Não tínhamos crédito, sem dinheiro, em setembro, outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro e março." Mas em vez de balançar para a esquerda, seus instintos o levaram para o centro, fortalecendo-o contra pressões populistas. Ele deu ao Banco Central uma mão livre para controlar a inflação, mesmo ao preço de reduzir o crescimento. "Nós sabíamos que não haveria milagres", diz ele.
"Tivemos de deixar claro que o Brasil não é um país pequeno", reforça Lula . "O Brasil tem a Amazônia [floresta], mas faz também aviões e telefones celulares." E assim, sua diplomacia agressiva tem encorajado nações mais pobres a assumirem um novo papel na economia internacional. Seu maior médito, no entanto, tem sido a sua capacidade de vender as reformas para uma população maioritariamente pobre que olhou para ele como uma espécie de salvador. "A popularidade de Lula ajudou a tomar decisões arriscadas", diz José Dirceu, um ex-ministro, que caiu após um escândalo de corrupção. Mais importante: ao contrário dos demagogos populistas que abundam na América Latina, ele fez jogando pelas regras. "O respeito de Lula pela democracia e eleições é uma grande vantagem", diz o ex-secretário do Tesouro Joaquim Levy. "Muitas vezes ele tem sido capaz de traduzir os valores fundamentais da democracia de modo a torná-las mais concretas para as pessoas".
O crash econômico, finalmente, colocou as habilidades de Lula à prova. "Foi assustador", lembra o presidente do Brasil. "Não tínhamos crédito, sem dinheiro, em setembro, outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro e março." Mas em vez de balançar para a esquerda, seus instintos o levaram para o centro, fortalecendo-o contra pressões populistas. Ele deu ao Banco Central uma mão livre para controlar a inflação, mesmo ao preço de reduzir o crescimento. "Nós sabíamos que não haveria milagres", diz ele.
Ainda assim, a crise inflamou o velho rancor de Lula sobre o "capitalismo selvagem" e a loucura do mercado livre. Ele culpou a confusão do mercado às pessoas de "pele branca e olhos azuis", que sempre conduziram a economia mundial, além de ridicularizar os campeões da desregulamentação e do "mínimo" do estado. "Nos anos 80 e 90, era moda ridicularizar o Estado", diz ele. "Mas em um piscar de olho, o mercado livre quase faliu o mundo. E a quem vão pedir ajuda? Ao Estado."
Mas a maior ambição de Lula é fazer valer o lugar do Brasil no cenário mundial. Ele não faz segredo do seu próprio orgulho nacional. Já em 2003, as nações do G-7, finalmente, abriram seu encontro anual para alguns dos países menos ricos, e Lula estava entre os convidados. Ele se levantou antes do encontro na França e ficou maravilhado com o quão improvável era que ele, filho de um camponês, era agora abordar algumas das pessoas mais poderosas do planeta. Então ele virou a mesa: por que não realizar a próxima reunião do G7 no Brasil, ele desafiou. "Afinal, em 20 anos talvez apenas três de vocês vai continuar a existir." Nem todo mundo se divertiu. Mas ninguém perdeu o ponto.
Newsweek diz que Lula é o político mais popular do planeta – Folha e Globo não divulgam
ResponderExcluirSem defender esse ou aquele político, uma coisa fica clara: Folha de São Paulo e O Globo, fazem, definitivamente, o pior jornalismo do mundo.
Ora, seja o profissional contra ou a favor de Lula, como jornalista tem de reconhecer que a notícia da revista Newsweek sobre Lula ser o político mais popular do mundo tem relevância para os seus leitores.
Então tanto O Globo quanto a Folha de São Paulo mostram que não são uma fontes de informação que prezam pela eficiência e lealdade para com seus leitores. Não mostraram uma notícia relevante, independentemente de qualquer juízo de valor. Longe de qualquer conotação política, a questão é somente de qualidade do material divulgado. A Folha e O Globo não servem como referência quer na internet quer no papel.
PS: para comprovar veja os dois links abaixo que fazem a triagem dos sites oglobo.com.br e folha.com.br em busca das palavras “lula” e “newsweek”
Newsweek (News= Notícia, Week=Semana), é uma revista norte-americana semanal publicada na cidade de Nova Iorque e distribuída para os Estados Unidos e também internacionalmente. Na atualidade é a segunda maior revista semanal do país, superada apenas pelas Revista Time em circulação e ganhos com publicidade.
* http://www.google.com/search?q=site%3Aoglobo.com.br+newsweek+lula
* http://www.google.com/search?q=site%3Afolha.com.br+newsweek+lula