Não sou geek, nerd e talvez nem mesmo entenda o significado exato (ou popular) desses termos. Igualmente, não sou um blogueiro que se enquadra na onda das mídias digitais ou que compreenda-as em profundidade. Estou mais para um comentarista despretensioso, mas crítico das coisas que estão à nossa volta. Credito a isto minha identificação e respeito ao trabalho do jornalista Maurício Stycer, do Último Segundo (IG). Como ele, não sou, não me acho e nem pretendo ser um expert em mídias sociais, mas sei muito bem que neste mundo virtual as pessoas tendem a subverter a realidade das relações e criar suas próprias verdades para justificar suas atitudes. Não concordo e acredito que a ética, o caráter e a transparência ainda devem determinar as relações.
Por isto, achei oportuna e precisa a reflexão de Maurício Stycer em seu blog, a respeito da publicidade velada no Twitter. As conclusões a que ele chega são as minhas e, confesso, não saberia escrever com idêntica simplicidade e clareza. Por isto, não vou ruminar tais pensamentos e limito-me a reproduzir abaixo o artigo, que recomendo a leitura. Apenas registro que as conclusão é extensível a todas as mídias (sem exceção), mas principalmente aos blogs que se multiplicam e que recebem hordas de novos e entusiastas aspirantes a "novos milionários", que se esquecem de algumas regras básicas de convivência no mundo real. Digo isto para alertar que a publicidade escondida nada mais é do que enganar seu leitor. É como ridicularizar com um cartaz jocoso às costas alguém que lhe procura para pedir um conselho ou uma opinião. A publicidade, velada para mim, é, em suma, como prostituir-se com o corpo alheio.
"Acompanhe meu raciocínio:
1. Ao recomendar um link aos seus seguidores, você está querendo partilhar alguma leitura, imagem, desenho ou vídeo que, do seu ponto de vista, merece ser apreciado por outras pessoas.
2. As pessoas que apreciarem a sua indicação podem reenviá-la para as suas próprias listas de seguidores, alimentando um ciclo de envio e reenvio sem fim, que é um dos fenômenos mais interessantes do Twitter.
3. Quanto mais legal for a recomendação que você faz, maior a chance de produzir esse ciclo e, em consequência, de ganhar novos seguidores.
4. Quanto maior o número de seguidores que você tem, maior a influência que você exerce na rede. Não é, portanto, um trabalho sem recompensa. Você pode até fazer tudo isso desisteressadamente, mas algo você vai ganhar em troca. Os especialistas falam em “prestígio” e “relevância” no esforço de definir o que você ganha no Twitter.
5. Visualize o gráfico: quanto mais gente vê as suas recomendações, maior a chance de ela ser difundida. É uma curva que aponta para o céu.
6. Trata-se, portanto, de uma relação que se estabelece com base na confiança, não importa o grau de notoriedade e fama de quem faz a recomendação.
7. O seu seguidor te segue porque gosta das recomendações que você faz e, mais que isso, sente-se bem podendo enviar para os seus próprios seguidores as dicas que você dá.
8. Vamos imaginar agora o seguinte exemplo fictício: você recomenda a seus seguidores que vejam um vídeo de uma briga entre dois anões. É uma “treta” divertidíssima. Você adora o vídeo e acha que seus seguidores merecem se divertir tanto quanto você.
9. Só que, além de ser divertido, você também indicou este vídeo porque viu nele uma boa oportunidade de divulgar a palavra que marca a campanha publicitária de um determinado biscoito. Não por coincidência, a fabricante deste biscoito está te pagando para fazer recomendações como essa no Twitter.
10. Imagine que, talvez, entre os seus seguidores e os seguidores dos seguidores que receberão essa indicação e a farão circular pela rede, haja alguém que não saiba que você está recebendo dinheiro para fazer isso.
11. Quando este alguém, desinformado, descobrir que a pessoa que lhe recomendeu a “treta” de anões estava ganhando dinheiro para fazer isso, o que ela pensará? Você acha exagero imaginar que este leitor desinformado se sinta enganado?
Como disse, sou um recém-chegado neste novo mundo. No velho mundo, de onde venho, isso é crime de lesa confiança. Passar a impressão de que a recomendação da “treta” de anões enquadra-se na mesma categoria que todas as outras indicações que você faz, nesse mundo, chama-se publicidade velada, tentativa de disfarçar proposta de consumo no meio de informação.
Alguns participantes da campanha, bem-intencionados, avisaram em seus blogs que estariam ganhando dinheiro para indicar links no Twitter. Outros argumentaram que a campanha é tão transparente que o nome de todos está no site do fabricante de biscoito. Não quero magoar ninguém aqui, mas isso é a mesma coisa que colocar na sala um aviso de que é proibido fumar em todo o apartamento e fumar escondido no quarto.
A questão central é que credibilidade se constrói com transparência. Não que a velha mídia esteja livre da publicidade velada. Muito pelo contrário. Há, é lógico, muitos comunicadores que ficaram famosos e ricos misturando informação com publicidade, fazendo anúncio disfarçado, até jogando dinheiro para o público. Mas, e aqui eu encerro este texto, popularidade não deve ser confundida com credibilidade. Quem quiser vender biscoito no Twitter, fingindo que está passando links legais para seus leitores, fique à vontade, mas não espere ser respeitado".
Ilustração: Céo Pontual. Conheça o Blog Frases Ilustradas
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