
Como diz o cientista político e diretor do Centro de Pesquisa e Comunicação (Cepac), Humberto Dantas, ao atuar a favor de Sarney, Lula vem "sistematicamente" rompendo com princípios que marcaram a atuação do PT na história política do país, como o combate à corrupção e ao uso da administração pública para fins pessoais.
Nos últimos meses muito se falou do pragmatismo de Lula, em casos como a relação com a Venezuela, com Barak Obama e mesmo quanto à ruidosa eleição no Iraque, mas nada se compara à postura que vem adotando neste episódio e que, à primeira vista, parece ameaçar sua própria credibilidade, escorada num governo super popular e nos êxitos da economia. Até mesmo amigos pessoais de Lula, como o jornalista Ricardo Kotscho alertaram o presidente para que não abuse da boa-sorte ou de eventual ajuda de seu anjo da guarda.
O episódio desta semana no Senado exemplifica muito bem este risco, pois coincidiu com o anúncio da saída de Marina Silva, com a crise interna e desmoralização de seu líder, Aloísio Mercadante. Em discurso no Plenário do Senado, nesta sexta-feira, Mercadante disse que a aliança com o PMDB deve ser "preservada", mas que algumas questões defendidas pelo PT "não podem se perder em nome da governabilidade".
O episódio desta semana no Senado exemplifica muito bem este risco, pois coincidiu com o anúncio da saída de Marina Silva, com a crise interna e desmoralização de seu líder, Aloísio Mercadante. Em discurso no Plenário do Senado, nesta sexta-feira, Mercadante disse que a aliança com o PMDB deve ser "preservada", mas que algumas questões defendidas pelo PT "não podem se perder em nome da governabilidade".
A aliança com o PMDB, maior partido não apenas no Congresso Nacional, mas também com forte presença em todas as regiões, é considerada peça fundamental nas eleições presidenciais do próximo ano. Mas esta é muito mais uma avaliação pessoal de Lula, que credita suas derrotas iniciais à Presidência à falta de alianças, do que um fato concreto numa eleição distante, mas que tanto se discute e que tantos lances ainda esconde. A chegada de novos candidatos, o fôlego redobrado de Ciro Gomes, a doença que estacionou o crescimento da ministra Dilma, apontam apenas para o início de uma grande jornada até a posse do sucessor de Lula. Por isto, porque parece tão cara a ele a defesa de Sarney? A questão da sucessão e a necessidade do PMDB é uma das respostas, já que na linha de sucessão do Senado está o oposicionista Marconi Perillo (PSDB-GO), desafeto dos petistas e homem forte de José Serra no Congresso, mas não a única.
É certo que a parceria com o PMDB dobraria o tempo a que o PT terá direito no horário eleitoral gratuito, canal de campanha importante principalmente para candidatos pouco populares como a ministra. De acordo com a última pesquisa do Datafolha, a preferência pela ministra é de 16%, mesmo número registrado no levantamento anterior. O governador de São Paulo, José Serra, aparece com 37% e o deputado federal Ciro Gomes, com 15%. O apoio dos parlamentares peemedebistas também é essencial para as pretensões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para o equilíbrio das contas num ano de crise e para manutenção de eventual apoio num futuro governo. Mas não é tudo.
Há uma questão ainda não tratada e vista com desdém por parte da mídia, mas que pessoas próximas a Lula afirmam ter peso essencial em suas decisões: a lealdade. Afinal, no ano que antecedeu à sua reeleição, o presidente sofreu seu pior período, com denúncias e acusações que resvalavam em seu gabinete. E, em todas as oportunidades, o senador José Sarney, que ainda gozava de certa credibilidade e do respeito que se concede gratuitamente aos ex-presidentes, defendeu Lula e apostou em sua inocência. Ele acredita que deve isto a Sarney e não é do tipo de pessoa que abandona os amigos, mesmo que este seja um bandido confesso. Aliado a isto, há o aspecto bem anotado por Alon Feuerwerker, em seu blog: “a consciência do cidadão não tem outro dono a não ser o próprio. Se o brasileiro comum não vai ficar contra Lula só porque há pessoas bem nascidas e bem postas falando mal do presidente, tampouco vai ficar a favor de Sarney só porque isso convém aos propósitos políticos de Lula e do PT. O cidadão-eleitor é cada vez mais dono do nariz”.
A meu ver, o presidente Lula aposta nisso e, como se estivesse num jogo em que começa perdendo no primeiro tempo, acredita poder arrumar o time no intervalo, retornar a campo e vencer. Se estiver certo, terminará a partida nos braços da torcida. Caso contrário...
Ilustração: Orlandeli. Conheça Blog do Orlandeli
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