Ela optou pelo Partido Verde (PV) para "ser coerente consigo mesma" e escolheu para o anuncio da decisão justamente a data negra para o perfil ético do PT : quando foram arquivadas todas as denúncias contra Sarney no Conselho de Ética do Senado. Nada mais "auspicioso", para usar um termo de uso popular. Por conta disso, foi alçada à condição de celebridade. E sua trajetória não cansa de ser repetida: criança e adolescente analfabeta, começou a trabalhar com seus irmãos "seringueiros" sangrando árvores para recolher a borracha. Não bastasse, Marina perdeu a mãe com 14 anos, e passou a tomar conta de seus irmãos até que atingida pela hepatite, foi forçada a mudar-se para a cidade. Lá teve oportunidade de estudar, alfabetizou-se, fez supletivo e formou-se na faculdade como historiadora.
Curioso notar que parte da imprensa que a atacou quando foi escolhida para o Ministério do Ambiente, chamando-a de "extremista" e acusando-a de ter conceitos incompatíveis com o desenvolvimento econômico que o Brasil precisava, agora passa a redescobrir a "onda verde" e abraçar a sua causa com simpatia adolescente. Isto se deve, em parte à inegável respeitabilidade de sua figura pública, que jamais foi manchada por escândalos, discussões sobre financiamentos de campanha ou batalhas de bastidor. Mas, como se demonstra mais provável, a aposta no "efeito Marina" tem a ver com o desejo de boa parte da imprensa de por em dúvida o projeto de fazer de Dilma Roussef, ministra chefe da Casa Civil, a sucessora de Lula; ou mesmo de buscar uma terceira via para a polarização que se avizinhava entre Dilma e José Serra (PSDB).
Como já ocorreu em outra oportunidade com Fernando Collor e Ciro Gomes, a senadora Marina Silva perturba o cenário político e, como tal, o mobiliza a imprensa anti-Lula e mesmo aquela ala da imprensa que o apóia, mas que não se identifica com o perfil frio, de administradora sem carisma de Dilma. Contudo, a mais de um ano das eleições de 2010, ainda é cedo para traçar qualquer tendência de mudança. Principalmente porque, apartando as imensas credenciais da ambientalista Marina, seu discurso pode perder-se no monotemático e sua personalidade e convicções religiosas (ela é evangélica) podem limitar sua
A verdade é que, ao contrário do que a repercussão de sua decisão leva a crer, Marina tem poucas chances. O pequeno Partido Verde tem 14 deputados, sem programa, sem dinheiro para uma dispendiosa campanha e um tempo de publicidade miserável. A mídia, não há dúvida, é uma excelente caixa de ressonância e sabe refletir o anseio de mudança, mas a realidade política não aponta para o mesmo norte. Com isto, tudo leva a crer que massacrada pelos votos de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, a candidatura de Marina Silva entre em colapso já no início do segundo semestre de 2010.
Isto se a própria senadora, que é uma mulher de princípios, não jogar a toalha antes disso, pressionada pelas dificuldades e pela politica questionável do PV, que por vezes parece moderno, mas muitas das vezes não passa de um partido fisiológico no pior sentido do termo. Ela tem princípios, mas veremos quando eles forem colocados à prova, quando ela tiver que dividir o palanque com candidatos a deputado, senador, ou governador que representem tudo o que ela sempre combateu.
Em tempo: o Partido Verde convocou, curiosamente ainda durante à noite, reunião extraordinária da Comissão Executiva Nacional para quarta-feira, dia 26.
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