
Um prêmio a Agaciel que, como diretor da Gráfica do Senado, editara, às expensas da Viúva, peças de campanha de políticos. Entre eles Roseana Sarney. Numa segunda presidência, Sarney manteve Agaciel. Amigos e aliados de Sarney –ACM, Jader e Renan, por exemplo— preservaram Agaciel. Eleito presidente pela terceira vez, Sarney conservou a intocabilidade de Agaciel. Defenestrou-o depois. Por pressão, não por vontade própria.
A mansão de R$ 5 milhões, cuja propriedade Agaciel ocultara, tornara-se um fardo demasiadamente pesado. Mas Sarney não tem nada a ver com isso. Sacudida pela imprensa golpista, a folha do Senado revelou-se um abrigo de frutos da árvore genealógica dos Sarney. O neto, a mãe do neto, o irmão, o par de sobrinhas, a cunhada da filha, o diabo. Sarney, o patriarca, não tem nada a ver com isso.
A empresa de outro neto intermediou no Senado os interesses de casas bancárias. Operou no filão dos empréstimos a servidores. Coisa segura e rentável. Entrega-se o dinheiro aqui e amarra-se o pagamento ali, no contracheque dos enforcados. Os contratos foram firmados antes que o senador virasse tri-presidente. O neto é preparado, coleciona canudos internacionais. Sarney não tem nada a ver com isso. A Petrobras borrifou nas arcas da Fundação José Sarney R$ 1,4 milhão. Grana de mecenato, trançada na grande área do Ministério da Cultura. Até então, a fundação era uma pedinte malsucedida. Espetara na burocracia do ministério nove projetos. Coisa de R$ 3,4 milhões. Noves fora um caraminguá de R$ 100 mil, pingado pela Telebras em 1996, na fase pré-privatização, só a Petrobras se animou a estender a mão para a fundação.
Sarney endereçou uma carta ao ministério. Pediu pressa na aprovação do projeto. Liberada a coleta, a estatal petroleira começou a contribuir no mesmo dia. Levantaram-se dúvidas quanto à aplicação de um pedaço do patrocínio: R$ 500 mil. Contrataram-se empresas esquisitas. Entre elas a da mulher de um tal de “Pipoca”, ex-assessor de Roseana, hoje auxiliar do ministro-companheiro Edison Lobão. E Sarney: “Não participo da gestão da fundação”. Ou seja: não tem nada a ver com isso também. De modo algum. Absolutamente não!
O repórter acredita na tese. Ela guarda certa coerência. Ora, se Sarney não teve nada a ver com coisa nenhuma nos últimos 15 anos, por que teria agora? A imprensa maledicente não vai parar, porém, de aborrecer o senador. Sugere-se a Sarney a adoção de uma providência que renderia homenagens à transparência. Para evitar o incômodo de ter que dar uma explicação atrás da outra, Sarney poderia imprimir na testa uma tatuagem: “Não tenho nada a ver com isso”.
Se achar a frase grande demais, Sarney pode recorrer a uma abreviatura: NaV, “Nada a ver”. Com o tempo, o dístico lhe será tão característico quanto o bigode. Ao avistar um ou outro, mesmo o mais desavisado dos transeuntes será compelido a concluir: Ali vai José Sarney, o político que não tem nada a ver com nada.
A partir do Blog do Josias. Leia texto integral
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