
Depois de meses em que pretendeu se esconder sob a propalada "majestade co cargo", acabou trazido ao palco para explicar, com sua retórica particular, um festival de contratações, aumentos e gratificações de parentes dele próprio e de seus subordinados, colegas e cupinchas. Tudo tão às escondidas que nem ele "sabia de nada".
Como bem observou Josias de Souza em seu blog, "depois que José Sarney disse que a crise é do Senado e não dele, tudo ficou desobrigado de fazer sentido em Brasília". Mas, obviamente, ficou difícil dar de ombros a tantos escândalos, depois que se descobriu que o contracheque do mordomo da casa que Roseana Sarney mantém em Brasília é pago pelo Senado. De carona, do alto de sua popularidade, levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi traído pela amizade e arriscou dizer que o parlamentar não é "uma pessoa comum". Foi além: questionou a veracidade das denúncias sobre a criação de cargos e nomeação de parentes por atos secretos. A fala foi afinada com o discurso feito no dia anterior por Sarney, da tribuna, no qual ele se esquivou do escândalo, alegando que a responsabilidade é coletiva.
Aliás, o aspecto coletivo da responsabilidade é, a par de muitas mentiras e omissões, a única verdade incontestável de toda esta história. Alguns senadores pecam por omissão, outros por conivência e mesmo a população, que não aprendeu a direcionar sua revolta, acaba contribuindo para a continuidade de tais atos. Como reação, surgiu apenas a possibilidade de o PSOL representar contra Sarney, o que, no jargão da política, significa pedir a abertura de um processo cujo desfecho mais grave é a cassação do mandato do congressista. Resumindo: o empavonado senador maranhense, eleito pelo Pará, pode ser imortal às custas das conveniências inconfessáveis da Academia Brasileira de Letras (ABL), mas não está, definitivamente, acima do bem e do mal.
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